domingo, 24 de janeiro de 2010

Pesquisa aponta mitos e verdades sobre a afetividade e sexualidade de pessoas com deficiência física


Desenhos ilustram o estudo e são de autoria de Bruna Bortolozzi Maia, filha da autora da pesquisa.

Ana Cláudia Bortolozzi Maia terminou em outubro de 2009 sua pesquisa de pós-doutorado intitulada “Inclusão e Sexualidade: análise de questões afetivas e sexuais em pessoas com deficiência física”, realizada junto ao Núcleo de Estudos da Sexualidade (NUSEX) e Laboratório de Ensino e Pesquisa em Sexualidade- (LASEX), sob a supervisão do Dr. Paulo Rennes Marçal Ribeiro, do Departamento de Psicologia da Educação, da UNESP, Araraquara. A pesquisa foi realizada com apoio de Bolsa Pós-doutorado Júnior do CNPq (Processo no. 15.2094/2008-3) que teve duração de um ano. O objetivo da pesquisa foi investigar questões psicossociais sobre a sexualidade em populações especiais sob o ponto de vista de homens e mulheres com deficiências físicas. A pesquisadora ouviu 12 pessoas adultas com diferentes deficiências físicas, como lesão medular, paralisia cerebral, acidente vascular cerebral, encefalite, má formação medular, etc. A partir dos relatos dos participantes, várias questões foram analisadas como o cotidiano com a deficiência, a educação/orientação sexual e o aprendizado sobre sexualidade; a percepção corporal; a vida familiar e social; a vida afetiva e sexual e a relação entre a deficiência e sexualidade. Os resultados da pesquisa mostram que os participantes consideraram as limitações orgânicas e sociais relacionadas à deficiência, porém, evidenciaram uma vida laboral, emocional e social de modo satisfatório. Também relataram pouco acesso a informações sobre sexo e sexualidade na escola, na família ou de profissionais, esclarecendo sobre a questão com a experiência de pares igualmente deficientes. A concepção de sexualidade foi relevada como ampla e difusa, isto é, incluiu o relato do afeto e da confiança como sentimentos fundamentais para sustentar o relacionamento amoroso e sexual, quando há uma deficiência física envolvida. Os participantes demonstraram boa auto-estima e reconhecem a deficiência física como integrante de sua condição pessoal, talvez pelo tempo prolongado de convívio com a deficiência. Assim como não-deficientes eles retrataram também a influencia de padrões definidores de normalidade, como a estética, por exemplo. A pesquisadora conclui que a sexualidade foi uma dimensão importante na vida dos entrevistados e seus relatos esclareceram vários mitos que, em geral, atribuem aos deficientes uma vida assexuada e infeliz. Segundo ela, “esses dados evidenciam que essas pessoas precisam ser reconhecidas como íntegras na sua sexualidade, superando os preconceitos e respeitando os princípios de uma sociedade inclusiva”.

Para contato com a Prof. Dra Ana Claudia Maia (Unesp-Bauru): aricaumaia@uol.com.br

3 comentários:

  1. Mariana, como sempre discutindo temas importantes e muitas vezes escondidos 'debaixo do tapete'. Parabéns!

    Apesar de pouco discutidas, algumas pessoas vem falando sobre sexualidade e afetividade de pessoas com deficiência. Uma delas, que aliás tive um contato próximo por um tempo e admiro muito, é Michel Fernandes, um jornalista daqui de São Paulo, cadeirante.

    Ele tem um blog pra falar sobre o tema:
    www.kadeirasutra.blogspot.com

    Segue a descrição do blog - "O KadeiraSutra partiu de uma idéia muito simples: discutir as diferenças físicas (dos fisicamente diferentes, sejam cadeirantes, cegos, surdos etc.), as diferenças sexuais (ser hétero, bi, homossexual etc.) e como isso se relaciona na roda das idéias pré-concebidas, sob o meu ponto de vista, já que sou gay e cadeirante."

    Tivemos várias conversas sobre 'sexo x cadeira de rodas' e uma das maiores angústias dele era a de reconhecimento do deficiente como um ser integral, assumindo e aceitando as diferenças, mas com desejo, com a mesma estrutura afetiva e emocional que qualquer outra pessoa. Ele dizia que por ser cadeirante não poderia fazer algumas coisas que quem não tem deficiência faria... mas que poderia fazer outras tantas, diferentes e criativas! Até surpreendentes!

    Isso tudo me faz pensar que de fato o ser humano tem uma dificuldade gigantesca em ver além da casca, além das 'normas estéticas'... minha amizade com o Michel me fez entender que nenhum conceito é maior do que o universo único e múltiplo de cada um.

    Não é fácil colocar isso em prática, mas acho que é um dever de cada um de nós olharmos para nós mesmos, nos questionarmos e, se possível, mudarmos nosso universo interno na busca de uma vida melhor, menos pré-conceitos, mais liberdade! Mudando nosso universo interno, mudamos o mundo!

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  2. Mariana, não mais que por acaso (se é que isso existe) encontrei um trecho de um documentário sobre o Michel, meu amigo cadeirante que citei no comentário anterior.

    Vale ver!

    Beijo!

    http://www.youtube.com/watch?v=-HQGPmOyZNw

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  3. Esse blog tá ficando muitíssimo interessante, principalmente pra quem gosta, estuda e precisa saber sobre o assunto.
    Parabéns Má!

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