sábado, 18 de setembro de 2010

Casais do mesmo sexo optam por adoção individual para enfrentar o processo com menos dificuldade



Reportagem LEDA SAMARA
Edição PHILLIPE TRINDADE
GUILHERME DE SOUZA

Casais gays enfrentam resistência na hora de adotar uma criança
Toni Reis e David Harrad estão juntos há vinte anos, tem uma união e uma vida estável. Eles ainda não têm filhos. O casal quer adotar uma criança para finalmente formar uma família e iniciou o processo em 2005. Passaram pelo procedimento padrão de regularização de filiação não consangüínea: Apresentação dos documentos, palestras, entrevistas em casa e por fim um curso. “Em nenhum momento fomos discriminados”, contou Reis. O juiz determinou que eles não poderiam adotar qualquer criança, apenas uma menina com mais de 10 anos. “Adotaríamos sem problemas, desde que não fosse uma imposição do juiz”, afirma Reis. Quando recorreram ao processo, os juízes permitiram a adoção. Mas então foi o Ministério Público que se opôs à decisão. Novamente o casal recorreu, dessa vez ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Superior Tribunal Federal (STF). “Agora temos esperança de finalmente conseguir”, conta.
Toni Reis é presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Segundo ele, o estado do Paraná tem dificultado a adoção por casais do mesmo sexo e por isso recorreu aos tribunais superiores. “Conheço seis casais que tentaram e não conseguiram, é um ato discriminatório”, opina. Contudo, Reis diz estar esperançoso, pois em abril deste ano o Superior Tribunal de Justiça reconheceu por unanimidade a adoção de crianças por um casal de lésbicas. O processo já tinha sido aprovado pela justiça do Rio Grande do Sul, mas o Ministério Público recorreu da decisão, levando a ação ao STJ.
Brecha na legislação
Hoje, a legislação brasileira não apresenta nenhuma especificação em relação à adoção homoafetiva. Não há proibição, mas não há lei que regulamente o processo. O assunto gera polêmica nos tribunais no Brasil e a decisão, favorável ou não à adoção, fica a critério do juiz responsável. Segundo a advogada e desembargadora Maria Berenice Dias, por não haver previsão expressa na lei, a tendência é de recusa aos pedidos de adoção feitos por casais homossexuais. “A justificativa é sempre preconceituosa, juízes alegam que ter dois pais, ou duas mães, não é o melhor para as crianças”, afirma. No entanto, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adoção pode ser aceita “quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos”.
A falta de legislação leva os candidatos a buscar alternativas. Para conseguir a adoção com menor dificuldade, os casais homossexuais optam por adotar como pai solteiro. É permitida por lei a adoção por pessoa solteira e, no caso dos gays, devido ao preconceito, essa pode ser a maneira mais fácil. “Só um se candidata sem dizer que é gay. Mas é mais interessante criar o vínculo com os dois pais, para deixar a criança mais segura”, relata Maria Berenice. Toni Reis nem cogitou a possibilidade de tentar a adoção individual. “É direito de meu filho estar protegido pelos dois pais” declara. Mas ele relata que muitos optam por essa alternativa.
Segundo advogada, é possível que juízes tomem decisões em favor da adoção pelo par para evitar esse tipo de ação. A atitude dos casais gays mostra uma realidade grave - um casal do mesmo sexo tem que optar por não assumir a sua união estável, caso contrário é privado da oportunidade de adotar um filho.
No Congresso Nacional, nos últimos dois anos, dois projetos de lei foram sugeridos para proibir – e não para regulamentar – a adoção por pessoas do mesmo sexo. Sugeridos pelo deputado federal Zequinha Marinho (PSC-PA) neste ano, e pelo deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL) em 2008, os projetos ainda estão tramitando no legislativo. Ambos justificam que a adoção por pessoas do mesmo sexo interfere na criação e causa constrangimento para a criança. “Nós temos certeza que essas leis não serão aprovadas”, afirma o presidente da ABGLT.
Além disso, uma lei que propunha regulamentar e permitir a adoção homoafetiva foi vetada pela ala fundamentalista do Congresso Nacional. “Os grupos religiosos radicais são os principais oponentes das leis a favor dos homossexuais”, afirma Reis. A Associação tem se articulado para garantir do direito dos gays, congregando 237 organizações em todo o Brasil que lutam em prol da causa. “No congresso temos 240 parlamentares que apóiam o projeto de cidadania GLBT”, relata.
De acordo com Maria Berenice, para solucionar esse impasse não é preciso a criação de uma lei específica para a adoção homoafetiva. “Na legislação deve constar que duas pessoas, independente do sexo, podem adotar uma criança. Não precisa haver referência expressa ao homossexual”, defende. Toni Reis compartilha da mesma opinião e acredita que deve estar claro que qualquer casal tem o direito a adotar, independente da sua orientação sexual. “Apesar da constituição não apresentar especificação em relação ao assunto, é clara quanto aos direitos iguais de todos os cidadãos”, finaliza.

Fonte: Jornal Comunicação

Maioria é contra adoção por casal gay no Brasil


Por CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO


Quase dois meses após o STJ (Superior Tribunal de Justiça) reconhecer que casais homossexuais têm o direito de adotar, 51% dos brasileiros dizem ser contra essa prática. Outros 39% são favoráveis à adoção por gays.

É o que revela pesquisa Datafolha realizada entre os dias 20 e 21 de maio com 2.660 entrevistados em todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

As mulheres são mais tolerantes à adoção por homossexuais que os homens: 44% contra 33%. Da mesma forma que os jovens em relação aos mais velhos: na faixa etária entre 16 e 24 anos, a prática é apoiada por 58%, enquanto que entre os que têm 60 anos ou mais, por apenas 19%.

"Já é um grande avanço. Na Idade Média, éramos queimados. Depois, tidos como criminosos e doentes. O fato de quase 40% da população apoiar a adoção gay é uma ótima notícia", diz Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).

Ele reconhece, porém, que o preconceito é ainda grande. "Serão necessárias muitas paradas e marchas para convencer a população de que somos cidadãos que merecemos o direito da paternidade e da maternidade."

A taxa de pessoas favoráveis à adoção por homossexuais cresce com a renda (49% entre os que recebem mais de dez salários mínimos contra 35% entre os que ganham até dois mínimos) e a escolaridade (50% entre os com nível superior e 28%, com ensino fundamental).

Para a advogada Maria Berenice Dias, desembargadora do Tribunal de Justiça do RS, a tendência é que a decisão do STJ sirva de jurisprudência em futuras ações e que isso, aos poucos, motive mais pessoas a aprovarem a adoção por homossexuais.

"A maioria da população brasileira ainda é conservadora, mas já foi pior."

Entre as religiões, os católicos são os mais "progressistas": 41% se declaram a favor da adoção por homossexuais e 47%, contrários. Entre os evangélicos pentecostais, a desaprovação alcança o maior índice: 71%, contra somente 22% favoráveis.

O padre Luiz Antônio Bento, assessor da comissão para vida e família da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), afirma que a adoção por homossexuais fere o direito de a criança crescer em um ambiente familiar, formado por pai e mãe, e isso pode trazer "problemas psicológicos à criança".

A psicóloga Ana Bahia Bock, professora da PUC de São Paulo, discorda. "A questão é cultural. Se a criança convive com pessoas que encaram com naturalidade [a sexualidade dos pais], ela atribui um significado positivo à experiência."

Fonte: Folha.com

sábado, 7 de agosto de 2010

Especialistas falam sobre a adoção homoafetiva



Especialistas dizem que mais importante que a orientação sexual, é o vínculo dos pais com a criança
Lecticia Maggi, iG São Paulo | 01/05/2010

A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), da última terça-feira, de permitir que duas mulheres do Rio Grande do Sul registrassem os filhos adotivos no nome das duas reacendeu a polêmica em torno da adoção de crianças por casais do mesmo sexo.

Foi a primeira vez que o STJ se manifestou sobre o assunto e, com isso, abriu jurisprudência para que outros casais também obtenham decisão favorável na Justiça. Rapidamente, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se manifestou contra o STJ. O padre Luiz Antônio Bento, assessor da comissão para vida e família da CNBB, disse que a decisão tira da criança a possibilidade de crescer em um ambiente familiar formado por pai e mãe. “Nem sempre o que é legal é moral e ético”, afirma.


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De acordo com psicólogos ouvidos pelo iG, ser criado por dois pais ou duas mães não prejudica o desenvolvimento da criança nem faz com que ela se torne homossexual também. “O desenvolvimento independe dos pais serem hetero ou gays. A criança precisa se identificar com uma figura que lhe dê carinho, apoio e educação. O que importa é o vínculo e se aqueles pais realmente quiseram adotá-la”, afirma a psicóloga Mariana de Oliveira Farias, autora do livro “Adoção por Homossexuais - a família homoparental sob o olhar da psicologia jurídica”. Segundo ela, é importante que a criança tenha contato com pessoas de ambos os sexos, mas elas podem ser avós, tios e primos.

Segundo a psicóloga e advogada Tereza Maria Costa, que por mais de 10 anos atuou na Vara da Infância e Juventude de Juiz de Fora (MG), não há nenhum estudo que comprove que crianças criadas por pais gays também tenham tendência à homossexualidade. Para Tereza, a orientação sexual tem mais a ver com questões biológicas do que com o meio em que a pessoa vive. “Com todo o preconceito que existe, tenho certeza que se alguém pudesse optar escolheria ser hetero”, diz. “Não vejo como escolha. Ou a pessoa assume e tenta viver bem ou passa a vida camuflada”, diz.

Como contar

Uma das questões recorrentes é como e quando contar ao filho que ele possui dois pais ou duas mães. Segundo Mariana de Oliveira, não há uma idade certa para que o assunto seja discutido. “Os pais devem responder sempre de acordo com as perguntas que forem feitas, mas tomando cuidado para não ultrapassar os limites que a criança possa entender. Às vezes, a ansiedade dos adultos é maior que a dos filhos”, afirma.

Há várias formas se de contar, mas uma delas, diz, é explicar, primeiramente, que não há só um tipo de família e com certeza a criança deve ter um coleguinha com pais separados ou criado pela avó. “Pode-se dizer que a família que a concebeu por algum motivo não pôde ficar com ela, mas o casal a procurou, a ama muito e por isso a adotou”, afirma Mariana.

Tereza acrescenta também que é importante tratar a questão como natural, apesar de não ser convencional. “Isso faz com que, desde cedo, o filho aprenda a ter respeito pela diversidade”, diz ela, e completa que, se o assunto for bem trabalhado, a própria criança passará a defender os pais caso seja alvo de preconceito. “Flui normalmente, ela passa a admirá-los pelo que eles são e a homossexualidade vira 2º plano”.

As especialistas concordam em dizer que nunca se deve ser negada a adoção a um casal pelo simples fato de eles serem homoafetivos, mas é preciso avaliação. “Como há casais heteros que não tem estrutura e condições de criar um filho, também tem casais homos que não têm".

Fonte: Portal IG de Notícias

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/psicologos+aprovam+adocao+por+gays/n1237602132551.html